Em tempos difíceis, associações fortes fazem a diferença
Após 25 anos de trabalho associativo, primeiro na PACTA, depois na APECATE, tomei a decisão de abandonar todos os cargos que tenho vindo a desempenhar, sem que isso signifique, obviamente, deixar de ser associada ou de dar o meu contributo como membro “normal” deste colectivo.
No momento em que tomei a decisão, e porque já não tenho responsabilidades executivas desde 2016, logo não me sinto juiz em causa própria, senti que gostaria de partilhar com o sector, em particular com todos os que, ao longo destes anos têm dado importantes contributos ao trabalho associativo, uma preocupação/interrogação que sempre me acompanhou: o que é que pode explicar que os empresários não dêem às suas associações a importância que elas efectivamente têm?
A situação que vivemos hoje é clara. Somando a pandemia, a guerra e os retrocessos que ambas estão a trazer à causa da sustentabilidade do planeta, não há dúvida de que os próximos tempos vão ser difíceis para todos os agentes económicos. E nós não seremos excepção. São conhecidos os efeitos multiplicadores da actividade turística, dos eventos e dos congressos mas, quando a roda da crise começa a girar, surge o reverso da medalha e costuma doer. As certezas que alimentávamos sobre o futuro são chão que deu uvas. A palavra de ordem é aprender a viver com a incerteza, o que significa coisas complexas como planear a prazo e gerir o efémero.
A sensação de impotência é grande, mas não pode paralisar a acção, pelo contrário, tem que nos obrigar a focar no que podemos fazer. E há, pelo menos, uma coisa evidente em que não nos é permitido falhar: responder ao discurso europeu e nacional sobre os chamados “apoios à retoma” e dizer “presente”, a uma só voz, com toda a força que conseguirmos mobilizar.
É aqui que, na minha opinião, entra a importância do associativismo e o trabalho que todos temos que fazer com quem ainda não a percebeu.
No que respeita à APECATE, nestes últimos tempos, foram muitos os empresários que compreenderam a sua valia, graças ao trabalho, esforçado e sem tréguas, que foi desenvolvido durante a pandemia. Não foi possível ganhar todas as guerras, mas conduziram‑se com sucesso vários dossiers e, o que não é de somenos importância, evitaram-se muitos males maiores. Que o digam os organizadores de eventos e os operadores marítimo-turísticos.
No entanto, se compararmos as potencialidades de actuação da APECATE, o que consegue movimentar e realizar de facto, e a sua expressão numérica associativa, forçoso será reconhecer que está muito aquém do que pode e deve ser. Porquê?
Vou deixar de lado juízos de valor sobre as limitações que todas as associações têm. Perante os resultados alcançados, em condições que do exterior nem se imaginam, seria tão enorme a desproporção entre os elogios que teria de fazer ao trabalho e à dedicação da Direcção e as eventuais críticas aos seus defeitos, que, para não me desviar do tema que me propus tratar, não vou por aí. Quem dirige a APECATE tem dado provas de grande lucidez e não é, seguramente, a fonte deste desequilíbrio. Também deixarei de fora as chamadas “vantagens dos associados” porque não são elas, que até existem e são várias, que nos vão ajudar a enfrentar os tempos que se avizinham.
A razão de fundo que gostava de tratar aqui tem a ver, não com quem anda a dar tempo e vida própria para defender os nossos interesses, mas connosco, profissionais do sector: é a menor lucidez (ou a pouca visão, se ninguém se ofender com a expressão) de grande parte dos empresários, talvez decorrente de uma dimensão que os incapacita de pensarem para além da sua casa, de assumirem que fazem parte de um colectivo de quem podem receber e a quem devem dar.
Vejamos apenas dois aspectos desta questão.
O primeiro decorre de uma premissa que deveria ser evidente para todos e, pelos vistos, não é: os Governos não falam, e muito menos negoceiam, com empresas enquanto entidades individuais; falam e negoceiam com quem as representa. Primeira conclusão, simples e directa: quem quer ter voz activa junto de quem decide dos nossos destinos não pode estar ausente, tem que se associar a quem os representa. Na minha opinião, é esta a primeira causa do absentismo associativo: grande parte dos empresários não interiorizou ainda esta dimensão do trabalho. Mas têm que o fazer e sem demora. Têm que se interrogar se querem mesmo ficar de fora, se querem mesmo prescindir de participar nestes processos. Estamos em tempos acelerados e podem acreditar: não são só os clientes que pedem propostas para ontem.
Segundo aspecto, decorrente de uma outra premissa, talvez menos evidente, que justifica quer o absentismo associativo quer a pouca pró-actividade dos que já se associaram: a compreensão da importância da informação recolhida em directo, bebida do próprio sector.
Podia ser um factor de grande mobilização mas ainda não é. Absorvidos como andam com a sobrevivência das suas empresas, muitos empresários não compreendem que não é possível actuar, com todo o peso que a nova situação vai exigir, sem uma informação credível, sustentada em dados que só o sector pode dar. Se não tivermos a capacidade de expor claramente a dimensão dos problemas que nos ameaçam e de demonstrar o alcance de medidas que até podem ser simples e fáceis de tomar se bem fundamentadas, não vamos conseguir realizar os nossos objectivos.
Não vamos mais longe: pensem nos tão falados custos de contexto que, no fundo, correspondem a tudo o que nos faz perder tempo que é dinheiro e nos leva o dinheiro que custa tanto tempo a ganhar. Quantos empresários estão dispostos a responder a inquéritos de uma associação que tenha como finalidade inventariar e medir os custos efectivos a que nos obrigam os licenciamentos, taxas, burocracias inúteis, incomensuráveis períodos de espera para autorizações sem sentido? Quem é que já fez as contas na sua própria empresa? Os estudos do INE retratam bem o que se passa com os nossos sectores? E que propostas queremos apresentar que nos beneficiem a todos?
A APECATE representa um universo complexo de empresários, cada um com os seus produtos e serviços e, também, com os seus problemas específicos. Esta realidade agiganta a responsabilidade associativa e ela só poderá ser integralmente cumprida com duas condições: mais meios e mais apoio empresarial. O seu crescimento terá que significar, a muito curto prazo, duplicar, triplicar, quadruplicar o número de associados actualmente existente. O maior apoio empresarial terá que traduzir-se numa postura muito mais activa de todos os que podem contribuir para um melhor conhecimento e caracterização dos sectores representados e dos problemas que, apesar da diversidade de produtos e projectos, os afectam com uma gravidade comum.
Dá trabalho pagar quotas, marcar presença no Congresso, nos APECATE Days ou nos jantares-debate, relatar problemas, responder a inquéritos fornecer dados, ajudar o colectivo a crescer? Claro que sim. Mas os tempos difíceis obrigam a esta pequena militância. São o nosso “invasor estrangeiro” que, como temos visto 24h sobre 24h, só pode ser combatido com espírito de corpo, convicção e esperança nas causas que nos devem unir: garantir apoios a quem deles precisa, lutar pela diminuição da carga fiscal, propor soluções para baixar os custos de contexto, qualificar recursos humanos, melhorar condições de trabalho, promover os nossos negócios, tornar o sector mais competitivo, tudo isto são objectivos que interessam, dizem respeito e têm que ser factor de mobilização de todos nós.
Uma associação forte pode, de facto, fazer a diferença. Se me dão alguma razão nesta análise, aceitem o apelo: pensem na importância da nossa afirmação como colectivo, se ainda não o fizeram, associem-se à APECATE, tragam outros convosco e dêem o vosso contributo para, neste período negro, conseguirmos criar alguma luz.
Após 25 anos de trabalho associativo, primeiro na PACTA, depois na APECATE, tomei a decisão de abandonar todos os cargos…